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Módulo 4 – MOVIMENTOS SOCIAIS CONTEMPORÂNEOS
Módulo 4 – MOVIMENTOS SOCIAIS CONTEMPORÂNEOS

 

CRUZAMENTO DE TEXTOS – GLOBALIZAÇÃO E MOVIMENTOS SOCIAIS CONTEMPORÂNEOS

 

 

Para que se tenha um entendimento sobre os manifestos sociais de junho de 2013 no Brasil é relevante analisar os movimentos sociais nos últimos cinco anos.

 

A crise econômica de 2008, considerada a pior desde a Grande Depressão de 1929, foi disseminada ao longo dos anos 2000, quando o governo dos EUA reduziu as taxas de juros, elevando, desse modo, a oferta de crédito, o que fez as instituições bancárias emprestassem até vinte vezes o valor disponível em seus cofres, sem qualquer tipo de controle ou regulamentação. Os norte-americanos endividaram-se de forma excessiva, dificultando o pagamento das dívidas adquiridas, situação agravada pela queda do preço dos imóveis, cujos valores das hipotecas se tornaram insuficientes para cobrir os valores. O resultado do processo foi a queda do consumo, o que fez com que os lucros das empresas norte-americanas também despencassem.com falências de bancos e queda das ações nas bolsas de valores mundiais, dando início ao período mais dramático da crise de 2008, que duraria até o início de 2009. Um dos resultados imediatos desse processo foi a interrupção do sistema de empréstimos interbancários,obstruindo, inclusive, a linha de crédito para exportações, gerando um amplo quadro de recessão econômica.

 

A crise econômica estadunidense agravou problemas financeiros já existentes em países europeus como Portugal, Itália, Irlanda, Grécia e Espanha, que , diante desse contexto, aprovaram pacotes bilionários para evitar perdas de empregos e o aprofundamento de perdas financeiras. Todavia, diante da continuidade dos problemas econômicos, deu-se a diminuição da arrecadação de impostos, a ampliação do endividamento e o desmantelamento de políticas sociais.

 

 

Em 2011, uma nova crise econômica emergiu na Europa e nos Estados Unidos, mas mesmo intimamente relacionada ao processo descrito em 2008, apresentou características diferentes. Em 2008, o centro dos problemas eram os bancos americanos e europeus; em 2011, porém, as questões giravam em torno dos governos, especialmente após estes investirem no resgate de instituições financeiras.

 

Frente aos contexto assinalado, os Estados europeus adotaram políticas de austeridade como uma das medidas para sanar os problemas econômicos em curso, desencadeando um amplo cenário de demissões, falências, cortes de orçamento e recrudescimento de políticas sócias. Levaram milhões de europeus à situação de pobreza, sem que o Estado tivesse recurso para ampará-los mediante políticas sociais.

 

Em 2011, o panorama mencionado levou a uma importante mobilização que resultou em grande greve geral no decorrer de 24 horas, em protesto contra a política de austeridade adotada por boa parte dos governantes europeus. Entre as nações com participação mais destacada, estiveram Espanha e Portugal, onde a paralisação chegou a afetar tembém 100% dos portos e dos metrôs, e levou à drásticas redução do movimento dos aeroportos.

 

Em vários países houve greves gerais e paralisação por setores públicos, como na Itálisa que contou com mais de cem manifestações em Roma, Turim e Milão. No Estado Belga, mil pessoas protestaram contra as medidas de austeridade, resultando em uma greve que afetou, especialmente, os serviços do sul do país.

 

Na Alemanha, os protestos foram menores, reunindo em torno de duzentas pessoas contra os cortes sociais feitos nas regiões mais atingidas pela crise econômica. No Reino Unido, por sua vez, trabalhadores de uma companhia de trens demonstraram solidariedade aos demais sindicatos europeus.

 

 

Diante desse contexto, a falência de ideologias partidárias e de lideranças sindicais capazes de oferecer alguma forma de enfrentamento cedeu espaço às organizações de extrema-direita, que, diante desses cenários, costumam responsabilizar atores sociais como imigrantes e minorias. Revelando um cenário propício para a ascensão de ideias políticas marcadas pelo viés xenófobo. Todos aqueles que não eram vistos como representantes legítimos do conjunto de brancos, europeus e ocidentais passaram a ser alvo cada vez maior de intolerância, muitas vezes respaldada por leis de aprovação recente voltadas para a repressão de homossexuais, afrodescendentes, latinos, árabes, judeus e ciganos. A Suiça e a Grécia são exemplos de nações europeias na qual os partidos de direita têm resgatado sua força de organizações neonazistas na Alemanha que atuou em assassinatos ocorridos entre 2000 e 2007 contra imigrantes, em grande parte turcos, sem que fosse despertada a atenção da polícia ou dos serviços secretos alemão, que atribuía as mortes às organizações mafiosas.

 

 

 

No Brasil, ainda que cultuemos a ideologia de um suposto “paraíso das raças”, a presença de grupos de neonazistas não é irrelevante, fato comprovado pelos acessos a sites de teor discriminatório e de conteúdos nazistas. Em 2011, foram denunciados onze perfis do Twitter que disseminavam ódio a imigrantes, negros, judeus, mulheres e homossexuais.

 

Ainda ligados a fatos desencadeados pela crise que começou em 2008, pode ser citada a manifestação “Ocupem Wall Street”, que durou vários dias, de setembro de 2011, em protesto ao gasto exacerbado do governo para a salvação de inúmeras instituições vistas como essenciais à retomada de fôlego da economia. O movimento “Ocupem Wall Street” teve sua principal articulação por meio das redes sociais e é também nesse mesmo ambiente que teve inicialmente sua maior cobertura. A ocupação de Wall Street não contava com o envolvimento de partidos políticos nem de grupos sindicais, já que estes julgavam haver uma excessiva heterogeneidade de demandas sem direcionamento, aos quais não gostariam de vinculados. O movimento não apresentava liderança nem exigências específicas, mas uma profusão de pessoas e de protestos, que tinham em comum a busca por um sistema econômico que pusesse as pessoas acima de lucros, capazes de direcionar o responsável por concentrar 40% da riqueza norte-americana em apenas 1% da população. Apesar de pacífico, o movimento não deixou de conviver com inúmeras demonstrações de violência por parte das forças policiais, que procuravam desagregar a ocupação por meio do emprego de métodos repressivos.

 

 

Outro movimento que resultou de crises econômicas e sociais compreende-se como Primavera Árabe, iniciados em dezembro de 2010, na Tunísia, e cujo desencadeamento na metade de fevereiro de 2011 influenciou na articulação popular que possibilitou a derrubada do governo egípcio, disseminando-se assim, para além dos limites do deserto do Saara, atingindo a península arábica e envolvendo mais de 300 milhões de pessoas que compõem esse espaço geográfico.

 

 

Em 2013, no Brasil ocorreu o Movimento Passe Livre que era contra o aumento do transporte público, primeiramente ocorreu em Porto Alegre, para depois ganhar as ruas de São Paulo e outras capitais, mesmo aquelas que nada tinham feito contra o reajuste da mesma natureza, ocorrido meses antes. O protesto ganhou fôlego por meio do contato via redes sociais e tornou-se o meio pelo que inúmeros descontentamentos vieram à tona: os gastos com a Copa de 2014, em detrimento das urgentes necessidades enfrentadas pelo povo brasileiro; a corrupção; a impunidade; a concentração de rendas; entre outras insatisfações há muito reprimidas e que não encontraram um cana de repressão. Os protestos ocorreram nas mais diferentes cidades brasileiras, com todo o tipo de público, desde estudantes a idosos, englobando as mais distintas classes sociais.

 

As mobilizações podem ser compreendidas como a eclosão da crescente insatisfação gestada progressivamente nos últimos anos, quando houve aumento de renda em parte dos setores até então desfavorecidos da sociedades brasileira, por meio das políticasde fomento de renda, por exemplo, o programa “Bolsa Família”. Frente a esse cenário, aqueles que permaneceram excluídos desse processo ganharam mais um elemento de reivindicação. Para tanto, o espaço público tornou-se o local privilegiado para estabelecer os protestos, especialmente os lugares que simbolizam o poder político. Apontando para o entendimento de que, se não é possível negociar com a constante marginalização, faz-se necessário ocupar e invadir, para então, ser ouvido.